Localização
e situação na paisagem
A
Fábrica de Panchões lec-Long é uma das inúmeras fábricas de panchões
dispersas pela Ilha da Taipa, e que caracterizaram a actividade económica
do Território. Embora as restantes unidades se distribuam pela ilha
afastadas dos aglomerados, o recinto de lec-Long localiza-se no limite
noroeste do núcleo original da Vila da Taipa, desenvolvendo-se ao longo
da Rua de Fernão Mendes Pinto o da Rua Direita Carlos Eugénio, o tendo
como limito a Oeste a povoação de Chong Su Mei.
O
antigo núcleo da Vila da Taipa situa-se na extremidade sudoeste da Taipa
Grande, implantando-se já o recinto em aterros muito antigos e
consolidados, que estabeleceram a ligação à Taipa Pequena. Daí que o
recinto se situe entro as cotas 1.00 o 2.00m de altitude, e que o solo
seja constituído por uma camada de argila bastante compactada. Pela sua
situação em terreno plano, a sua exposição solar é bastante homogénea,
e o movimento aparente do sol faz-se num sentido oblíquo, gerando
ambientes bastante diferenciados ao longo do dia. 0 sol faz a sua aparição
por detrás da elevação da Taipa Grande, gerando uma silhueta muito
forte que marca a imagem do Sítio de manhã; ao final do dia o ocaso dá-se
no sector oposto, criando reflexos no canal e no lago, e gerando imagens
de extrema beleza.
O Parque como espaço de transição
O
Parque de lec-Long estabelecerá um novo limite ao núcleo original da
Vila da Taipa, consolidando uma vasta área em decadência desde a cessação
da actividade da Fábrica, que deu origem a uma ocupação mais do que
precária e sem qualidade urbana. Apesar da sua condição de limite, a
sua proximidade e articulação com o Largo do Carmo potencíam o seu
valor como espaço urbano o como factor estruturante das funções de
recreio e lazer urbano. Neste sentido, o conjunto formado pela Biblioteca,
o Jardim Municipal e as Piscinas, ao qual se acrescenta o Parque de lec-Long,
constituirá o centro cultural e recreativo da Vila da Taipa.
O
limite Noroeste do recinto do Parque é definido pelos arruamentos da nova
Urbanização da Baixa da Taipa, que passarão a delimitar o conjunto do núcleo
original da Vila. 0 Parque constituirá o tecido de transição da ocupação
edificada de baixa volumetria, o de características vernaculares, para o
novo tecido edificado de alta densidade caracterizado por tipologias de
quarteirão de perímetro edificado com seis pisos, e, mais adiante, de
torres multipisos. A alteração de escala dos elementos urbanos,
justifica o especial cuidado a ter no desenho do Parque, bem como na
escolha dos materiais e sistemas de construção, que simultaneamente
deverão respeitar o carácter de ruína
industrial do lugar e reflectir a situação de limite do núcleo histórico.
O espaço e o conjunto edificado da Fábrica de Panchões de lec-Long
O
recinto da Fábrica de Panchões ocupa uma área de aproximadamente 2ha, o
é separado da rua por um muro em alvenaria de tijolo rebocada, em que, no
troço que confina com a Rua Direita, é possível observar janelas
rasgadas e preenchidas por grelhas de tijolo. Este muro é interrompido
por dois edifícios mais altos, que têm igualmente um peso visual de
muralha, possuindo um grande valor urbano, pela força da sua imagem o
pela definição que empresta ao principal eixo viário da Vila.
lntramuros, esses dois edifícios e outros de menores dimensões, alguns
dos quais são construções informais ou muito degradadas, definem um
espaço de praça que marca a entrada.
A tipologia do recinto da Fábrica, caracteriza-se pelas casas da pólvora
alinhadas ou agrupadas em conjuntos quadrangulares, compartimentados por
grossos muros de taipa rebocada de secção trapezoidal, como elementos de
protecção contra explosões ou incêndios. São de assinalar como
elementos tipológicos, o reservatório, o canal de drenagem, e os
pequenos tanques junto dos edifícios.
A estrutura espacial existente é definida pela Praça de entrada; pelo
alinhamento de pavilhões menores paralelo ao canal; e pelo conjunto
murado rectangular.
A
partir da Praça desenvolvem-se dois eixos oblíquos que estruturam o
recinto da Fábrica. O primeiro conduz-nos ao conjunto murado e
rectangular, que pela sua considerável área relativamente ao total e
pelo seu carácter labiríntico constitui um espaço potencialmente autónomo
no futuro Parque. Imediatamente articulado, embora com uma ligeira rotação
na geometria de implantação, surge o reservatório de água que ocupa
uma área de cerca de 900m2. Este tanque de grandes dimensões é construído
por alvenarias de pedra aparente, sobre um fundo que cremos ser de solo
argiloso compactado, e possui uma adução de água por canal de origem não
identificada, e duas descargas de superfície, uma para o canal, o outra
com destino não identificado. Este reservatório constitui um, plano de
água com potencial valor lúdico, não só pela sua dimensão, como também
pelo envolvimento vegetal, e como plano reflector da colina da Taipa
Grande e do céu. Estes elementos definem o limite de um prado espontâneo
que se abre como uma clareira enquadrada por um conjunto de árvores de
porte considerável, que em parte se situam fora da área de intervenção,
na zona denominada como recreio escolar.
A partir da Praça desenvolve-se outro eixo, ao longo do qual se dispõem
linearmente uma sequência de pavilhões, paralelos ao canal, em direcção
ao limite poente da área de intervenção que confina com a urbanização
da Baixa da Taipa. Este eixo bastante arborizado, constitui um percurso
que define dois espaços de clareira: um até ao reservatório, englobando
o canal de drenagem e o pequeno templo, e o outro de maiores dimensões até
ao limite do terreno, actualmente ocupado por hortas, e por um prado
espontâneo.
Estes eixos, bem como outros percursos de menor importância, são
marcados por alinhamentos de árvores, em que predomina o Ficus rumphii.
Acessibilidade e imagem da paisagem
Actualmente
o acesso de viaturas ao recinto faz-se pela Rua Fernão Mendes Pinto,
através de um portão entre os dois edifícios principais. As entradas de
peões são pelo mesmo eixo viário, uma em túnel pelo edifício da
administração, e outra através de um pequeno portão quase no
enfiamento da Calçada do Carmo, que estabelece ligação pedonal ao Largo
do Carmo. Estes pontos cobrem as possibilidades de acesso ao recinto, pelo
que diz respeito a quem circula pelos arruamentos existentes no núcleo
histórico, e nesse sentido deverão ser equacionados como acessos possíveis
a partir desta frente de Parque.
A
frente oposta apresenta-se aberta e não comprometida, pelo que o acesso
se poderá fazer nos dois pontos potencialmente mais interessantes que são
o enfiamento da futura rua Seng Tou e o junto ao recreio escolar, o que
corresponde internamente ao limite do eixo de pavilhões e respectivo
acesso, o ao caminho que contorna o reservatório.
No
limito confinante com a antiga povoação de Chong Su Mei, o perímetro da
fábrica é definido por um muro, e dado que se prevê a consolidação da
zona a partir de um plano de pormenor a desenvolver, será de esperar que
a frente de contacto a propor estabeleça um acesso de serventia mais
localizado.
A
relação visual susceptível de gerar imagens da Paisagem estabelece-se
em diversas situações do recinto e define diferentes escalas de percepção,
com diferentes valores potenciais. Os sítios com maior valor visual estão
assinalados na planta de análise do existente e poderíamos diferenciar
imagens próximas e distantes.
A
elevação da Taipa Grande, com cerca de 135m , está completamente
revestida por vegetação densa e por afloramentos rochosos, constituindo
um prolongamento visual dos maciços de árvores existentes a nascente, e
aumentando a percepção das dimensões reais do recinto. Simultaneamente
constitui a imagem mais distante de um elemento primário da Paisagem da
Taipa.
Noutro
nível situa-se a imagem da Igreja do Carmo, que surge entre as copas das
árvores da encosta, visível a partir da clareira poente.
Da
praça de entrada surgem dois ângulos relativamente fechados, enquadrados
pela vegetação. 0 primeiro é uma perspectiva rasante ao solo e à
superfície do canal de forma curva e que conduz a perspectiva para um
ponto não visível, o que nos dá a sensação de profundidade e
continuidade para além do limite visual. 0 segundo conduz-nos para o
conjunto de edifícios em torre actualmente em construção na Baixa da
Taipa, introduzindo-nos a percepção da nova imagem urbana em pleno
desenvolvimento, distanciada pelos planos interpostos de vegetação
existentes. Constitui um desafio ao projecto do Parque, o controlo e a
articulação destas imagens tão diferenciadas em tema e escala.
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