PARTIDO PLÁSTICO
- Volumes, Proporções e
Escalas
Conforme
já atrás referido no âmbito da análise sobre diálogos possíveis com
substâncias arquitectónicas antigas, optou-se por uma clara separação
não só construtiva, mas sobretudo plástica, em relação aos elementos
existentes, sem contudo criar um objecto estranho que se posasse sobre a
fortaleza conferindo-lhe uma qualidade subalterna de 'plinto'.
Para
isso sobrelevou-se o piso baixo para a cota NMM13.00, mantendo
todavia o piso alto à cota do acesso urbano NMM15.80, possibilitando
assim algum destaque visual em relação ao solo e tornar as vistas do
interior mais sobranceiras aos muros da fortaleza, para que a fortaleza não
resulte em clausura da habitação. Do exterior esta sobrelevação será
imperceptível tendo em conta a baixa cota altimétrica da envolvente, e o
recuo da construção em relação à periferia dos muros.
Por
se terem localizado os espaços sociais da habitação no piso superior,
com acesso de nível à ligação ao meio urbano, e estando a altura do
piso superior condicionada à cota altimétrica NMM19,40, os tectos deste
piso, e a extensão das suas áreas amplas, definirão a marcação
horizontal do espaço e a sua extensão para a paisagem.
Para
tal, todos os elementos portantes estão recuados, os bordos das
coberturas são livres e os vértices dos espaços são desmaterializados
em vidro. Como atributo expressivo, estas coberturas têm contornos em ângulos
ligeiramente oblíquos e não se regulam por regras paralelas de direcções
entre si possibilitando, em conjunto com uma ligeira inclinação de cada
plano, a acentuação e o prolongamento perspéctico das peças para além
da sua dimensão real. 0 resultado pretendido seria uma ocupação 'livre'
sobre os muros da fortaleza por elementos laminares com uma expressão da
mesma categoria plástica dos contornos da fortaleza, mas desenvolvida em
elementos 'flutuantes', ocasionais e visualmente destacados do carácter
singular, maciço e prene da fortaleza.
Tirando
partido do efeito de 'escorço' em resultado da baixa cota altimétrica da
envolvente, serão apenas as faces inferiores destes elementos flutuantes
sobre a fortaleza que serão avistados em torno da fortaleza.
Sendo
estas coberturas os elementos mais definidores da construção, elas serão
simultaneamente o 5º alçado do edifício que se proporciona dos terraços
do edifício do Hotel Bela Vista, conforme a vista perspética em anexo.
Por
isso, não foi prevista qualquer ocupação na cobertura com equipamento técnico
(os aparelhos de ar condicionado estão instalados verticalmente no alçado
tardoz), e nem mesmo serão estas coberturas tratadas como terraço de
exposição directa à intempérie.
A
solução construtiva adoptada será uma laje estrutural onde será
resolvida a impermeabilização, e sobre a qual serão dispostos pequenos
'plintos' onde apoiam por gravidade lajetas de betão com revestimento
hidráulico em inertes minerais que lhe confiram textura e cor, sendo a
recolha da água feita por infiltração nas juntas dessas lajetas. 0
resultado permite que a cobertura manifeste apenas o seu contorno como um
perfeito elemento laminar, sem revelar muretes de bordo, elementos
construtivos de impermeabilização ou de terraço como geralmente
acontece em coberturas convencionais onde não existem requisitos especais
sobre a sua exposição visual.
O
prolongamento destas consolas permite o sombreamento dos envidraçados e a
dupla camada construtiva da cobertura, como atrás descrito, permite o
sombreamento da laje de betão e a sua ventilação por convecção uma
vez que as juntas são abertas.
De
um modo geral, todos os elementos da construção são laminares e
portantes. Os ângulos entre elementos portantes têm a configuração de
'bumerangue' (quer isto dizer que têm lados que não são absolutamente
paralelos aumentando no sentido do maior esforço) conferindo‑lhes a
resistência necessária, ou mesmo acentuar expressão plástica dessa
resistência, e o prolongamento visual das peças forçando a sua
perspectiva.
ESTRUTURA
DE COMPARTIMENTAÇÃO
Em resultado da articulação de elementos plásticos 'soltos'
preconizados, os volumes estão consequentemente vocacionados para alguma
independência nas suas unidades. Uma vez que o programa inclui unidades
habitacionais com alguma autonomia e independência optou‑se pela
total separação das habitações T1 entre si e entre a habitação T3,
podendo todavia partilhar o espaço de garagem, de logradouro ajardinado e
mesmo as habitações T1 beneficiar da cozinha da habitação T3 por
proximidade e conveniência de percursos. Assim, todas as habitações têm
ingressos exclusivos do exterior e acessos aos espaços de logradouro e
total autonomia e privacidade no seu interior e em relação à sua
envolvente. |